07 setembro, 2016

PF apura atuação de fundos de pensão em Belo Monte


Casa de Força principal da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu

Procuradores que conduzem as investigações sobre perdas em negócios feitos pelos maiores fundos de pensão do país planejam examinar também investimentos que eles fizeram na usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. 

A empresa responsável pelo empreendimento, a Norte Energia, tem como sócios o grupo Eletrobras, empresas do setor elétrico e dois fundos de pensão que se tornaram alvo de suspeitas, Petros, dos funcionários da Petrobras, e Funcef, dos empregados da Caixa Econômica Federal. 

Ao lado da Previ, dos funcinoários do Banco do Brasil, e do Postalis, dos Correios, Petros e Funcef se tornaram alvos da Operação Greenfield, deflagrada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal na segunda (5).

O pedido de prisão temporária do ex-presidente da Funcef Guilherme Lacerda e de outras sete pessoas, apresentado pelo Ministério Público, faz referência a uma "terceira fase" da operação para examinar o caso de Belo Monte, sem oferecer detalhes. Lacerda, que deixou a Funcef em 2011, está preso em Brasília. 

De acordo com os investigadores, Lacerda "detinha e detém relações estreitas com diversos atores e grupos políticos que pareciam exercer o controle de diversos fundos de pensão". A Funcef investiu R$ 285 milhões na usina de Belo Monte, quando Lacerda era presidente do fundo de pensão. Juntos, Petros e Funcef têm uma fatia de 20% das ações da Norte Energia. 

Informações obtidas pela Operação Lava Jato chamaram atenção dos investigadores da Operação Greenfield. Mensagens encontradas no telefone celular do ex-presidente da construtora Andrade Gutierrez Otávio Azevedo mostram que ele mantinha contato com Lacerda em 2012, quando o ex-presidente da Funcef ocupava uma diretoria do BNDES, o principal banco de fomento do país. 

Os investigadores, para quem Lacerda "parece cobrar propina" nas mensagens, dizem que as conversas podem "ter relação" com investimentos da Funcef para construção de navios-sondas para a Petrobras, operações do BNDES ou Belo Monte. 

Filiado ao PT, partido pelo qual disputou e perdeu uma eleição para deputado federal no Espírito Santo em 2010, Lacerda indica nas mensagens a Azevedo ter proximidade com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso pela Lava Jato no Paraná. 

A Operação Greenfield obteve sete prisões temporárias e o bloqueio judicial de até R$ 8 bilhões. A primeira etapa da investigação concentra-se em oito negócios que teriam causado prejuízos para os quatro fundos de pensão que são investigados pela operação. 

De acordo com os investigadores, esses fundos investiram mais em algumas empresas do que seus ativos valiam, liberando mais recursos do que avaliações mais rigorosas justificariam e indo contra as normas dos fundos. 

Segundo a PF, Lacerda participou de decisões que levaram a Funcef a investir em quatro negócios, incluindo a Eldorado Celulose, empresa da holding J&F, controladora da JBS. A defesa do ex-presidente do Funcef afirmou que teve acesso aos autos há pouco tempo e irá analisá-los antes de se manifestar. 

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