
O
ministro José Eduardo Cardozo rebateu na noite desta quarta-feira (18)
críticas feitas horas antes pelo juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara
Federal de Curitiba. Em nota
veiculada no site da pasta que comanda, Cardozo anotou que “em nenhum
momento recebeu qualquer solicitação de advogados de investigados na
operação Lava Jato para que atuasse no sentido de criar qualquer
obstáculo ao curso das investigações em questão ou para atuar em seu
favor em relação a medidas judiciais decididas pelos órgãos
jurisdicionais competentes.”
Responsável pelos inquéritos que
desvendam a corrupção na Petrobras, Sérgio Moro utilizara um despacho no
qual renovou a ordem de prisão preventiva contra quatro executivos de
empreiteiras para tachar de “intolerável”
as reuniões que advogados dos detentos mantiveram com Cardozo para
“obter interferência política”. Evocando o noticiário sobre as conversas
com o ministro, o juiz escreveu que as questões processuais devem ser
discutidas pelos advogados “nos autos”. Realçou, de resto, que recebe
defensores dos investigados “quase cotidianamente”.
Em sua nota,
Cardozo declarou que teria reagido à altura se lhe tivessem feito algum
pedido impróprio. “Caso tivesse recebido qualquer solicitação a
respeito, em face da sua imoralidade e manifesta ilegalidade, teria
tomado de pronto as medidas apropriadas para punição de tais condutas
indevidas”.
Sérgio Moro havia se referido às reuniões como uma
“indevida, embora mal sucedida, tentativa dos acusados e das
empreiteiras de obter uma interferência política''. Cuidadoso, o juiz
poupara o ministro. “Sequer é crível que se dispusesse a interferir
indevidamente no processo judicial e na regular e imparcial aplicação da
Justiça'', anotara em seu despacho.
Na opinião de Cardozo,
reiterada na nota, “é dever do Ministro da Justiça e de quaisquer
servidores públicos receber advogados no regular exercício da profissão
conforme determina o Estatuto da Advocacia.” Essa posição rendeu-lhe no
final de semana um ataque frontal do ex-presidente do STF Joaquim
Barbosa. “Você defende alguém num processo judicial. Ao invés de usar
argumentos/métodos jurídicos perante o juiz, você vai recorrer à
política?”, alfinetara o ex-relator do mensalão nas redes sociais.
Barbosa pedira o escalpo
de Cardozo: “Nós, brasileiros honestos, temos o direito e o dever de
exigir que a Presidente Dilma demita imediatamente o ministro da
Justiça.”
O noticiário do final de semana fez menção a três encontros
do ministro com advogados de presos da Lava Jato. Cardozo repetiu na
nota que “a única audiência concedida” foi aos defensores da construtora
Norberto Odebrecht. Deu-se, segundo ele, “no dia 5 de fevereiro, às
15h30, conforme registrado em agenda pública e em ata.” Porém, o
ministro admitira em entrevista à repórter Catia Seabra que sua agenda, que deveria ser pública, nem sempre é divulgada.
“Todos
os compromissos oficiais são marcados regularmente'', dissera Cardozo,
antes de admitir: “Muitas vezes, por força da dinâmica do ministério,
atividades são alteradas.
Percebemos agora que, por falha do sistema de
registro, o agendamento alterado não foi recolocado no sistema. Há
vários dias em branco. Alguns se referem a férias. Outros a essa falha.”
De resto, a assessoria do ministro reconhece que ele esteve também com o
advogado Sergio Renault, que defende o preso Ricardo Pessoa, dono da
UTC.
Alega-se, porém, que o encontro com Renault foi fortuito e
limitou-se a uma troca de cumprimentos na ante-sala do gabinete do
ministro. Nessa versão, Cardozo recebera em audiência o advogado e
ex-deputado petista Sigmaringa Seixas. Como Renault havia agendado um
almoço com Sigmaringa, combinou de encontrá-lo no Ministério da Justiça.
E o ministro o teria brindado com um aperto de mãos e um dedo de prosa
banal.
Por uma dessas coincidências fatais, Ricardo Pessoa, o
cliente do doutor Renault, deu meia-volta no acordo de delação premiada
que negociava com o Ministério Público Federal no Paraná. Acusado de ser
o coordenador do cartel que trocou propinas por negócios na Petrobras,
ele teria muito a delatar.
Cardozo se nega informar de forma
transparente o que diabos foram fazer na sala dele os participantes da
“única audiência” que diz ter concedido a advogados de encrencados na
Lava Jato. Escreveu em sua nota que “a empresa Odebrecht, na
oportunidade, noticiou a ocorrência de duas eventuais irregularidades
que exigiriam providências do Ministério da Justiça, não guardando
nenhuma pertinência com quaisquer decisões judiciais tomadas no caso.”
O
ministro acrescentou que “essas irregularidades ensejaram a
apresentação formal pela empresa de duas representações que se encontram
em tramitação no Ministério da Justiça.” Qual o teor dessas petições?,
indagara na véspera a repórter Catia Seabra.
E Cardozo: “Não posso
responder. Tenho que zelar pelo sigilo legal. Sei que o fato de estar
impedido de divulgar todas as representações faz com que pessoas
maldosas especulem sobre o conteúdo dessa reunião. Não teria sentido que
o conteúdo não fosse estritamente o que estou dizendo, até pelas
cautelas formais que foram tomadas.” Então, tá!
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